PRECE AO VENTO, A CANÇÃO IMORTAL DE GILVAN CHAVES

Há um cantor, compositor, folclorista e músico de Pernambuco que, se vivo fosse, teria completado em 20/09/2009 noventa anos. Naquela data, eu fiz tocar num site popular a sua mais famosa canção. O talento de Gilvan é praticamente ignorado pelos seus conterrâneos.

Gilvan de Assis Chaves, conhecido artisticamente como Gilvan Chaves, nasceu em Olinda/PE a 20/09/1919. Sua primeira apresentação como cantor foi no colégio Pio X também em Olinda. Aos 17 anos compôs sua primeira música chamada “Tiro Errado” que nunca chegou a gravar. Aos 25 anos ingressou na Rádio Clube de Pernambuco a convite do maestro Nelson Ferreira para tocar violão e cantar toadas e cantigas regionais, local onde conheceu gente como Luiz Bandeira, Sivuca, Paulo Molin e José Tobias. Nos anos seguintes atuou como vocalista nos conjuntos Ases do Ritmo, Os Boêmios e Grupo Paraguassu. Como cantor teve o prazer de inaugurar a Rádio Jornal do Commercio, em 1949 e a Rádio Tamandaré, em 1951.


Em 1952, já famoso, seguiu para o Rio de Janeiro onde atuou como intérprete de suas composições e de outros compositores, também se destacando como um ótimo contador de “causos”. Com a fama conquistada no Rio de Janeiro, foi para São Paulo a convite para se apresentar em rádios, TVs, clubes e boates, já sendo considerado um legítimo representante do rico folclore nordestino como cantor e humorista.


Estreou no disco em 1955 através do selo pernambucano Mocambo onde gravou a famosa “Pregões do Recife”, embora uma composição sua e de Alcyr Pires Vermelho, o rasqueado “Moça Bonita” já houvesse sido gravada desde 1953 pela gravadora Sinter. E também em 1954 o Trio Nagô gravou a sua mais famosa canção, “Prece ao Vento”, composta em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Fernando Luiz da Câmara Cascudo, filho do maior folclorista brasileiro. Aliás, Luiz da Câmara Cascudo tinha grande admiração pelo trabalho de Gilvan Chaves, tanto que por sua mão chegou a fazer parte da Sociedade Brasileira de Folclore. Em 1955 passou a atuar na Rádio Tupi e TV Tupi de São Paulo. Em 1958 gravou o seu LP mais famoso “Encantos do Nordeste” pela Colúmbia, o qual traz na contracapa um texto de Câmara Cascudo falando sobre o seu trabalho.


Em 1960 passou a gravar na RCA. Foi escolhido como o melhor cantor brasileiro de folclore recebendo o prêmio “Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”. Em 1963 parou de gravar. Trabalhou ainda na Rádio Nacional de Brasília como apresentador e produtor de programas. Em toda carreira gravou cerca de seis LPs. Em 1975 voltou a gravar e teve lançado pela Colúmbia um LP que reunia os seus maiores sucessos. No mesmo ano a Rozenblit fez a mesma coisa com as suas músicas gravadas com o selo Mocambo.


Em 1994 teve a música "O Meu País", parceria com Orlando Tejo e Livardo Alves, gravada por Flávio José no LP "Nordestino Lutador". Em 2000 a mesma composição foi regravada por Zé Ramalho no CD duplo "Nação Nordestina".


Faleceu em 12/08/1986 em São Paulo. Satisfazendo a sua vontade, o seu corpo foi cremado e as cinzas foram jogadas no mar de Olinda.


Prece ao Vento é uma melodia do consagrado pianista Alcyr Pires Vermelho que recebeu letra de Gilvan Chaves e Fernando Luiz da Câmara Cascudo, filho do renomado folclorista potiguar. Por muito tempo a música Prece ao Vento foi confundida com as canções praieiras de Dorival Caymmi tal a semelhança de estilo.


Gilvan Chaves a gravou acompanhado somente do seu violão e de uma leve percussão e depois disso ninguém conseguiu regravá-la tão bem quanto ele. Nem mesmo Elizeth Cardoso e o Quinteto Violado. Como eu consegui convertê-la para o formato digital a partir de um vinil já meio estragado pela ação do tempo, a qualidade do som não está muito boa. Mas dá muito bem para se perceber tanto a beleza da música quanto da interpretação.
Boa audição!
 
(por Abílio Neto, pesquisador recifense. Publicado em www.overmundo.com.br)

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