TEREZINHA DE JESUS, ONDE ANDA ESSA EXCELENTE CANTORA POTIGUAR?

foto: www.forroemvinil.com

Elas começaram a vida artística à mesma época: a paraibana Elba Ramalho, a cearense Amelinha e a potiguar Terezinha de Jesus. Das três, somente Elba Ramalho alcançou aquilo que se chama de grande sucesso. Para mim, a melhor das três, a potiguar Terezinha de Jesus, inexplicavelmente teve uma carreira meteórica: 05 preciosos LPs gravados entre 1979 e 1983 e depois disso um sumiço injustificável.

Terezinha de Jesus tinha tudo para ser uma grande estrela da MPB: uma voz doída e delicada (dessas que rasgam corações), belos cabelos cacheados, um rosto adorável como é comum nas mulheres nascidas no Rio Grande do Norte e um grande fã clube entre os grandes artistas da música brasileira. A coroar tudo isso, um lindo par de olhos tão verdes quanto os “mares potiguares” (nome de uma canção gravada por ela).

Seu nome de registro é Terezinha de Meneses Cruz, nascida em Florânia/RN em 03 de julho de 1951. A partir de 1970, já residindo em Natal, passou a participar de festivais locais e regionais. Foi quando integrou o Grupo Opção. Em seguida, seguiu para o Rio de Janeiro e usou o nome artístico Tiazinha. No início da carreira carioca, atuou como vocalista de artistas como Tim Maia e gravou também como vocalista para grupos como Golden Boys, Trio Esperança e Quarteto em Cy. Em 1978, apresentou-se no Projeto Vitrine, da Funarte, do qual resultou um disco compacto duplo. Depois lançou os LPs Vento Nordeste (1979), Caso de Amor (1980), Pra Incendiar Seu Coração (1981), Sotaque (1982) e Frágil Força (1983. Participou das edições nacionais do Projeto Pixinguinha (1979 e 1981) e do Projeto Seis e Meia (1981). Em 1994, voltou a residir em Natal.

Os atributos de beleza e artísticos de Terezinha de Jesus, juntando-se à sua incrível capacidade de organizar belíssimos repertórios para seus discos faziam dela uma forte candidata a estrela de primeira grandeza da música popular brasileira. Não foi o que se constatou, infelizmente. Gravou um compacto e cinco LPs, fez relativo sucesso e depois foi jogada na vala do esquecimento sem razão alguma. Não enterraram o seu talento que continua intacto até hoje, mas quase conseguiram apagar por completo a sua memória da história da MPB.

A explicação que encontro para isso foi que a década de 80 foi muito difícil para inúmeros artistas porque predominava aquela estratégia de pasteurização da música brasileira imposta pelas gravadoras quando se destacavam apenas artistas que gravavam músicas da dupla de compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas. Fora disso, só grupos como o Roupa Nova atingiu o estrelato. Não havia espaço para gente como Terezinha de Jesus que foi a intérprete que fez no curto espaço de tempo em que permaneceu no mercado,antecipando-se a Marisa Monte, um resgate significativo de grandes compositores: Bororó, Lupicínio Rodrigues, Luiz Bandeira, Nelson Ferreira, João do Vale, Alcyr Pires Vermelho, Gilvan Chaves, Élton Medeiros, Anísio Silva, Claudionor Cruz e Pedro Caetano. Além disso, gravava Moraes Moreira, Fagner, Paulinho da Viola, João Silva, Geraldo Nunes, Capinam, Fausto Nilo, Petrúcio Maia, Abel Silva e Sueli Costa. Seu repertório era composto de choros, sambas, frevos, xotes, baiões e arrasta-pés em levada de frevo ou forró. Grandes músicos e arranjadores que trabalharam nos deus discos garantiram uma harmonia impressionante do conjunto (voz e instrumentos) na execução dos diversos ritmos gravados que se tornaram sonoridades inesquecíveis do nosso cancioneiro. Para se ter uma ideia disso, Terezinha gravou uma inédita “Na Direção do Dia” que tempos depois seria rebatizada de “Toada” e gravada pelo conjunto Boca Livre.

Cheguei a pensar certo tempo que a palavra “Jesus”, gravada no seu nome artístico, tivesse atrapalhado a cantora, confundindo-a com uma cantora gospel como hoje se denomina a artista que faz apologia da fé. Grande besteira. Jesus não atrapalha ninguém! Fosse assim, o dançarino Carlinhos de Jesus não faria o sucesso que fez e ainda faz.

Por falar nisso, numa entrevista feita há poucos anos, Terezinha de Jesus explica como se deu o seu nome artístico:

“Sou batizada como Terezinha mesmo, o diminutivo de Tereza. Quando comecei a cantar, eu tinha um apelido: Tiazinha. O grande poeta e compositor Abel Silva, achava que esse era um nome muito familiar para ser o de uma artista. Lógico que essa Tiazinha de hoje ainda não tinha aparecido. Então Abel Silva decidiu sugerir um nome artístico pra mim. Uma certa ocasião ele perguntou o que eu achava de Terezinha de Jesus. Eu achei ótimo, lindo. Um nome bem brasileiro, que vem do folclore de Portugal. Tem até aquela musiquinha... Capinam e Paulinho da Viola, que estavam conosco, também gostaram. Com o aval de tantos poetas, resolvi, ali, passar a utilizar Terezinha de Jesus.”

À pergunta sobre o porquê do afastamento do eixo de sucesso (Rio-São Paulo) optando pela volta ao Nordeste, Terezinha esclareceu:

“Fiquei muitos anos no Rio de Janeiro. A gente sempre volta para a terra da gente quando as coisas começam a ficar difíceis... Saí da CBS porque quis. Já estava no terceiro contrato e aquilo começava a parecer um casamento. Eu achava que minha carreira não estava evoluindo, que eles poderiam investir mais em mim, que faltava vontade pra isso. Logo após gravar Frágil Força, em 1983, botei na cabeça que se o disco não emplacasse, não fizesse um grande sucesso, eu sairia da CBS. Eu pensava que seria mais ou menos fácil, com tanto tempo de carreira e tantos trabalhos bem feitos, conseguir outra gravadora. É um mistério até hoje. Não sei o que aconteceu, mas cansei de procurar. Então resolvi: se não querem que eu cante, então não vou mais cantar. Voltei para Natal em 1994.”

Questionada sobre o que ouve hoje em dia, a cantora respondeu:

“Não ando ouvindo muito essa geração mais nova. Ainda dou preferência aos mais antigos, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa... Também gosto de Marisa Monte. De Natal, gosto de muita gente: Pedrinho Mendes, Geraldinho Carvalho, Cleudo. Mirabô gravou, no disco que Babal vai lançar, uma música muito boa. Quem ouviu diz que ficou linda. Pra citar as mulheres também, porque se não fica muito machista, tem Odaíres, minha irmã, que também canta muito bem, tem Lane Cardoso, Lucinha Lira, Cida Oliveira e Glorinha Oliveira. Certamente esqueci alguém, já que Natal tem muita gente boa.”

Terezinha de Jesus, hoje em dia, no terreno da música faz pouca coisa: uma ou outra apresentação em projetos culturais quando eles aparecem. É uma pena porque com 60 anos a sua voz continua perfeita!

Para relembrar de Terezinha de Jesus pela passagem dos seus 60 anos, completados em julho último, eu selecionei duas músicas do seu lindo repertório: Nova Ilusão, de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, um choro-canção de 1941, que para mim é uma das páginas mais lindas da música brasileira. Depois, de João do Vale e João Libório, a belíssima Amar Quem Eu Já Amei. A primeira é mais para curtir como grande peça musical. A segunda é mais dançante e mostra toda a versatilidade da artista.Participação do mestre Sivuca na sanfona e nos arranjos.

Por que, afinal, o Brasil esqueceu rapidamente de Terezinha de Jesus, essa jóia de cantora?

por: Abílio Neto, pesquisador pernambucano em http://www.overmundo.com.br/overblog/terezinha-de-jesus-o-sumico-da-musa-dos-anos-80

Comentários

  1. É realmente muito triste a nossa pouca cultura deixar uma estrela com esta si apagar assim, alias isso já é de praxe no nosso pais eles permitem que musicas de baixo galao tipo disclasificacao da mulher bem como tratando a mulher como 3º pessoa, cahorra, burra, galinha e etc.. ou como ele achei melhor tocar nas radios brasieiras do que uma musica tão bela e tão pura na voz da nossa Terezinha de Jesus.
    um abrao Terezinha e de a volta por cima voce ainda pode.
    Marcos
    Salvador Bahia.

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